Aqui, que ninguém nos ouve!

 



À hora marcada, o gabinete enche-se de histórias, de alegrias, de entusiasmo, de novidades… Das pequenas conquistas  com sabor Hercúleo: “Terapeuta, já consigo levar o garfo à boca!”; “Ontem, consegui levantar-me sozinho da cadeira!”; “Hoje, andei sozinha, não precisei de ajuda!”.

Mas, à mesma hora marcada, o gabinete enche-se de introspeção, de catarses de vida, de acertos e desacertos, de arrependimentos, como se de um confessionário se tratasse, um encontro com a própria consciência, ali, onde ninguém nos ouve!

Verdadeiro engano quem julga, que introspeção ou catarse de vida é só do pessoal mais velho, no fim de vida.  Ainda recordo o dia em que, à hora marcada, a porta do gabinete se abriu e uma jovem senhora saudou-me com um abraço choroso, de um choro da alma, prolongado, que durou metade do tempo da sessão.  Estava imobilizada pelos braços e pela emoção, desconhecia as reais intenções da utente. Nada mais podia fazer, somente retribuir o abraço, assim o fiz… No final, deste inesperado cumprimento,  duas desconhecidas frente a frente, onde um longo e demorado suspiro, acompanhado de  “Eu estou bem melhor, terapeuta!”, finalizou a primeira intervenção.

O/A fisioterapeuta trabalha na invisibilidade, do esforço, da perseverança, da consistência, da empatia, desenvolvendo planos de intervenção, condimentados com criatividade, paciência, tolerância, indulgência, benevolência, para com todos/as os/as que fazem abrir a porta do gabinete à hora marcada.

Aqui, que ninguém nos ouve, dia 8 de setembro é dia Mundial da Fisioterapia!

                                                                                                                     

Sara Leite

Fisioterapeuta


 

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