A entrada na creche/jardim de infância



Ano após ano a ansiedade de entrada na creche/jardim-de-infância é sentida de forma intensa quer pelas pessoas adultas quer pelas crianças. São muitas as questões que surgem e o processo pode ser “suavizado” talvez com um pouco de maior consciência da necessidade de gestão de emoções, quer por parte das pessoas adultas, quer por parte das crianças.
Imaginemos duas cenas diferentes, mas com as mesmas personagens.

Numa delas, os/as pais/mães, face às lágrimas da criança, ficam absolutamente rendidos/as. Abraçam-se a ela, prolongam o momento do adeus, questionam-se interiormente se será mesmo adequado deixá-la ali e não conseguem eles/as próprios/as deixar de chorar também.
Noutra imaginemos uma atitude diferente, em que houve a interiorização pela família de esta ser a decisão certa, com a convicção de que as lágrimas são quase inevitáveis e que, por isso, face a elas terão de adotar uma postura carinhosa, mas firme. Para além disto, têm consciência de que prolongar o adeus só dificultará o processo.
Sem grande reflexão e, certamente, quase de forma intuitiva, se depreenderá que as duas cenas descritas terão desfechos diferentes.

A dificuldade de gestão da ansiedade e angústia por parte da pessoa adulta serão de imediato captados pelas crianças, gerando nelas um grande receio. O que pensará a criança ainda que não muito conscientemente, quando a pessoa adulta a leva à escola pela primeira vez e, passado pouco tempo, face à sua recusa em ficar naquele novo contexto, começa a chorar quase tanto como ela? "Se a minha mãe/pai chora, é porque algo não muito bom estará certamente para acontecer. Logo, se eu chorar muito e me agarrar a ela, pode ser que me leve embora e não tenha de ficar neste local desconhecido." Assim se instala um ciclo vicioso que dificultará o processo de adaptação fazendo sofrer todas as pessoas envolvidas.
Outro aspeto que não facilita todo este processo é a chamada “despedida às escondidas”, que, basicamente, consiste na fuga dos pais/das mães, num momento de distração da criança. Esta é uma estratégia que pode ajudar os pais/as mães a não sofrerem tanto a pressão do protesto da criança, no entanto, a fuga pode gerar sentimentos de perda e abandono. Será positivo clarificar muito bem que irão embora, mas voltarão para a buscar, ao fim de algum tempo.
A família quer o melhor para a criança e a entrada na creche ou no jardim-de-infância é algo que promove o seu desenvolvimento em diferentes áreas. Passado o período inicial de tempestade inerente a todo o processo de adaptação, vem a bonança e as conquistas virão mostrar que valeu a pena.


Maria Cardoso e Rosa Roldão
Centro de infância de Ílhavo



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